1.7.25

Pulsação e quietude

No quarto, voltou a olhar para o poema. Assim também toda a vida chega / ao lugar da sua quietude. Não. Seja como for, não é vida, a palavra é sangre, sangue, tudo o que pulsa e flui. A luz do candeeiro era demasiado fraca, os insectos iam contra o abat-jour. Quando apagou a sua luz, a música recomeçou no bar. A pancada insistente do baixo. A sua pulsação, pulsava. Sangre.
Tinha saudades da sua cama, firme, do embalar eficiente dos carros na via rápida ao longe. Aquilo de que sinto falta é das minhas palavras-cruzadas pela manhã. Oh, Mel, que fazer? Parar de dar aulas? Viajar? Fazer um doutoramento? Suicidar-me? De onde veio esse pensamento? Mas a minha vida é dar aulas. O que é patético. Menina Gore, chatice mor.

Lucia Berlin, Manual para mulheres de limpeza

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