Etty Hillesum, Diário. 1941-1943
18.8.25
A disjunção emocional e a má fé pela mão dos outros
E se me sentir novamente em condições na segunda-feira [para ir novamente como voluntária para o campo de concentração de Westerbork]? Nesse caso vou ter com o Neuberg e digo-lhe no meu jeito encantador — sim, sim, já estou a ver a cena, faço um sorriso com o meu novo dente de porcelana com uma pequena cercadura de ouro — «Doutor, venho cá para uma conversa entre amigos, olhe, as coisas estão neste pé e eu gostaria tanto de ir, acha que é sensato?» E já sei de antemão que ele vai dizer «sim», porque eu vou fazer com que ele diga sim, tão sugestivamente lhe vou fazer a pergunta. Vou fazer com que ele dê a resposta que deveras quero ouvir. É assim que as pessoas vivem, portanto. Utilizam os outros para se convencerem a si próprias de algo em que não acreditam no fundo do coração. Uma pessoa procura então nos outros um instrumento para abafar a própria voz interior. Escutasse cada um a sua voz interior um pouco mais, tentasse cada um deixar ressoar a voz dentro de si, e haveria muito menos caos.
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