PEQUENOS PEDINTES
Nas esquinas
pelas portas dos cafés
pedintes ainda meninos
estendem a mão a quem passa
e quem passa dá esmola
ou não
e passa...
Ninguém escuta já a história
gasta e estafada
verdadeira ou falsa,
que murmuram seus lábios fanados
como pétalas murchando;
ninguém responde ao apelo
desta mão suplicante
que se estende, tímida e humilde,
e se pendura nas abas dos casacos:
— Quem passa dá esmola
ou não
e passa...
Pequeninas mãos brancas de pedir,
mais brancas ainda de anemia,
que destino se lê nas suas linhas?...
— PROSTITUTAS? LADRÕES? ASSASSINOS?
Olhos cristalinos de inocência
sorrisos brancos das bocas,
mãos de brinquedo,
foi a vida que lhos roubou...
e deixou
olhos fundos naufragados
entre traços de desgraça
que a vida cavou,
bocas mortas como noites sem estrelas,
gestos cansados de quem se fartou...
Tristes mãos de pedir o pão,
que mau destino se lê nas suas linhas?
— PROSTITUTAS! LADRÕES! ASSASSINOS!
Ai, pobres mendigos,
pálidos meninos,
sangue da minha raça!
Joaquim Namorado, Aviso à navegação (1941)
no Surreal/Abjeccionismo
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