Bruce Bégout, Dériville. Cidade-deriva. Os situacionistas e a questão urbana, trad. Diogo Paiva
30.5.24
A afectividade é transcendência
O afecto, portador de valores, isto é, de tomadas de posição, transcende de imediato a interioridade sensível. Não é o modo de ser da intimidade solipsista, mas a marca de uma correlação entre o sujeito e o mundo. Quando algo me comove (uma pessoa, uma paisagem, um bairro), por mais vago que às vezes seja, essa emoção não consiste na simples imanência do vivido; ela religa imediatamente esse vivido à situação que o suscita. A afectividade é transcendência. Portanto, não significa a introversão do sujeito sobre a vida como autoafectividade, mas a sua correlação constante com o mundo como heteroafectividade. Quanto mais profundo for o afecto, mais ele se abre para o mundo. As emoções mais fortes não encerram o indivíduo no pântano interior dos seus vividos, antes o abrem à exterioridade pura. É por isso que é tão difícil, na experiência de um sentimento, distinguir aquilo que pertence ao sujeito e ao objecto. O modo de ser do sentimento é atmosférico. De facto, apenas a emoção suscitada pelo vermelho (alegria, exaltação, inquietação) permite renovar o contacto com a coisa vermelha. É, portanto, enquanto comovido que o sujeito é impelido para o mundo, e é assim que pode intervir nele.
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