Outra história, esta do mundo da ficção.
Quignard lembra uma narrativa de Fedro, uma fábula.
Uma cabra, não se sabe bem como, estava no terraço alto de uma casa de campo e começou a insultar, lá de cima, um lobo que tinha uma perna partida e que estava lá bem em baixo, no chão. A cabra insultou o lobo, chamou-lhe nomes, disse que o lobo era um fraco, um cobarde, etc. O lobo permaneceu calado.
Depois, finalmente, levantou a cabeça e respondeu:
“Não és tu quem me insulta, é o teu tópos”!
Ou seja, não és tu quem me insulta, é a tua posição; é o lugar (tópos) momentâneo que ocupas que me insulta.
É uma bela fábula. Pensar nos poderes (e nos seus abusos) que são meramente originados pelo tópos, pelo lugar, pela posição momentânea em que as pessoas estão.
O poder que depende do lugar momentâneo em que as pessoas estão é um poder frágil, claro.
O verdadeiro poder humano está no que ele consegue fazer com os pés bem assentes no chão, com sua cabeça e com os seus braços — dois, um ou nenhum.
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