Se soubermos viver como vencidos, sê-lo-emos um pouco menos.
Em minha casa, às primeiras horas da manhã e da tarde, há quase sempre uma vela acesa, não votiva, mas para iluminar os objetos. Às vezes, a luz vai abaixo. Então torna-se incrível ver, enquanto as luzes artificiais emudecem, essa luz verdadeira que permanece viva, solitária, indiferente às máquinas da Energia, às repentinas quebras de tensão e aos cortes da Companhia Elétrica.
Das Menschenmaterial: é nisto que nos temos convertido desde 1914, palavra nascida então, e isto somos, nada mais que neutro «material humano», e mais que nunca agora. Antes éramos uns miseráveis, uns abjetos, mas ainda não tínhamos sido reduzidos a puro material. Eis-nos aqui em poder do Inorgânico que nos trata como a seus filhos.
Guido Ceronetti, Os pensamentos do chá
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