17.9.23

Europa

Via-os à procura de um passado, das razões da derrota,
sequiosos. Mas por que estaria ele a dirigir-se exclusivamente a
mim?
«Dá-me um olhar com que eu possa olhar um ser absolutamente
completo,
realizado na íntegra,
feliz,

triunfante,
possuidor de algo que me infunda temor. Um olhar sobre o homem que justifique o homem. Um olhar sobre uma folga de asa que traga ao homem o seu complemento e sua salvação. Um homem a quem
ficássemos devendo
o guardarmos ainda a nossa fé no homem.
Porque a realidade é bem outra: a cretinização do homem europeu
é mais do que um perigo,

é um espectáculo que nos cansa e deprime.
Não vislumbraremos o que quer que seja que nos faça maiores. Pressentimos que tudo se degrada e se reduz progressivamente a algo de mais frágil, de mais inofensivo, de mais prudente, de mais medíocre,
de mais indiferente ainda. 
É esse, na realidade, o destino fatal da Europa.
Ao deixarmos de temer o homem, deixámos de o amar,
de o venerar,
de ter esperança nele,
de ligarmos a nossa vontade à sua.»

Maria Gabriela Llansol, Da sebe ao ser

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