Aconteceu que um rico curtidor, que se chamava Anytos, tinha um filho que seguir com especial fervor os ensinamentos que Sócrates proporcionava pelas ruas. Anytos era um autêntico democrata. Tinha sido proscrito em Filé. Tinha participado na queda dos Trinta. Anytos foi buscar o poeta trágico Meletos. Juntaram-se ambos com o orador Lykon. Meletos, o Poeta, foi quem realizou a denúncia no tribunal do arconte-rei, acusando Sócrates de não só faltar à piedade pelos deuses que a cidade venerava no alto da colina, mas também por ter introduzido outros novos sob a forma de vozes secretas, intermitentes, invisíveis, que resultavam à presença na alma de um demónio de natureza desconhecida.
(...)
O tribunal escolheu à sorte 502 cidadãos com mais de trinta anos de idade. O poeta trágico falou primeiro, o curtidor em segundo lugar, o orador por último. Sócrates não disse nada. Foi condenado à morte por uma clara maioria, de maneira democrática, por 281 votos.
Pascal Quignard
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