6.7.24

Anarquia e adeus

«O homem põe e dispõe. Só a ele cabe pertencer-se todo inteiro, isto é, manter em estado de anarquia o âmbito cada vez mais temível dos seus desejos. A poesia ensina-lho: traz com ela a compensação perfeita das misérias que sofremos. É também uma ordenadora, se sob o efeito de uma decepção menos íntima nos lembramos de levá-la ao trágico. Venha o tempo em que ela decrete o fim do dinheiro e só ela parta o pão do céu para a terra! Haverá ainda assembleias nas praças públicas, e movimentos em que inesperadamente tomarás parte. Adeus selecções absurdas, sonhos de abismo, rivalidades, paciências exaustivas, galope das estações, ordem artificial das ideias, rampa do perigo, tempo para tudo! Dêem-se ao menos ao trabalho de pôr a poesia em prática. A nós, que vivemos dela, cabe-nos fazer prevalecer o seu mais amplo relato.»

André Breton, 1.º Manifesto do Surrealismo

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