Não, só demasiado ocupado.»
O absurdo do contemporâneo, da nossa relação com a técnica, conhece em Kiarostami a sua revelação fulgurante. Um homem que se desloca alguns quilómetros para falar ao telemóvel. Viagem de ida e volta filmada várias vezes ao longo do filme. Ao cemitério! A ironia, a paciência com que nos elucida! Milímetro a milímetro, é das máquinas que vamos cuidando, é para elas que se orientam os nossos gestos, o nosso tempo, o nosso desejo, como uma ocupação tão mansa mas tão exacta, tão plena.
E como os humanos têm mais motivos para enlouquecer do que as máquinas!
Isto num filme em que o centro é o humano, mortal terrestre.
Abbas Kiarostami, O vento levar-nos-á, 1999
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