Toda a mitologia é feita de gestos decisivos.
O gesto decisivo como sendo, tradicionalmente, um gesto heroico, como uma grande façanha.
É curioso, então, pensar num gesto decisivo que é, afinal, pouco relevante, ou melhor, que é, na aparência, pouco relevante.
Pouco relevante e não consciente da sua importância.
De facto, de uma maneira ou de outra, e com consequências ainda desconhecidas, o movimento do pescoço de Trump foi — para Trump e para a história dos Estados Unidos — um gesto decisivo. Porém, enquanto gesto em si — rotação do pescoço para o lado enquanto falava num discurso —, foi um gesto pouco relevante e não consciente da sua importância.
Irrelevante e inconsciente pode, então, ser o gesto decisivo. Que estranho, isto, num século onde o relevante e o consciente, a máquina e a decisão racional estão no centro da sociedade humana.
Gonçalo M. Tavares, «A rotação do pescoço, o destino», Expresso
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