17.7.24

Amar as tempestades

A vida não é vida senão quando sei o que não sei. Sem nenhuma dúvida, os gestos recíprocos e verdadeiros estendem-se na superfície celeste, abraçam constelações, queimam-se no brilho de uma infância iminente.
Aqui perto, os edifícios que caem estão vazios. Os escombros acumulam-se. Sem ninguém, sem a terra vermelha e os frutos selvagens.
As crianças decepadas ganharam asas e as árvores estenderam raízes para o alto.
Não nos vemos, nem ouvimos. Cavamos trincheiras, sepulturas. Apontamos as armas que separam o inseparável. Flutuamos. Mortos vivos que nem sabem amar as tempestades.

Silvina Rodrigues Lopes, Sobretudo as vozes

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