2.5.23

Espanto e explicações

Canto uma flor desconhecida que abre
seu ventre mate na íntima penumbra de florestas
quando em quase toda a natureza humana
a vibração da besta substitui a alegria
e as mulheres multiplicam os cabelos
de uma cor fulva e serpenteantes
eu canto o despertar da ira como um gesto inicial
quando não descoberto o mundo apetece e
nos poemas não cabem as felpudas folhas das nespereiras e
se sabe esperar meses pelo resultado de uma frase dita num salão
Eu canto a crueldade generosa e o febril fogo castigador
vivos no homem que não pervertia ainda
essa paixão vencida que há por baixo da mentira

Ruy Belo, Despeço-me da Terra da Alegria

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