O chão não se derrota, aguenta toda a carga, não se queixa. Não se cansa de ver, é firme — ensina-te a mortalidade, és um peso, bem podes saltar de uma ponte que acabarás por cair. Ele espera-te, não conhece o fútil, apenas o urgente, seguros tanto os que estão num festa como os que se levantam com pressa. Podes perder tudo, depois de tantas traições, fadiga, falhanços, depois de estares cansado tanto porque trabalhaste muito, como porque se infiltra, não sabes de que forma, ferrugem nas juntas da vontade, depois de não teres mais nada nem ninguém a quem te possas ligar, serás sempre um peso ligado ao chão. O chão é a propriedade que reconheces depois de perdido o que tinhas por essencial. Mas ele esteve sempre ali, foi sempre a propriedade que mais consistência dava às tuas ligações. É ele quem te segura depois de observares os factos vezes sem conta, instigando o confronto com o fragmento. Depois da última emoção, da impossibilidade de somar mais uma embriaguez, quando te tornares paixão frenética sem ligação que te devolva o corpo e a sua energia, lembra-te do chão, da mentira de tantas emoções, de tanto amor.
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