17.7.18

Bartleby, Bloom, Ulisses, Ulrich, homens que só têm o chão

Bartleby é o Celibatário, aquele de quem Kafka dizia: «Só existe o chão que faz falta os seus dois pés, e que pode ser ponto de apoio às suas duas mãos» — aquele que se deita na neve no Inverno para morrer de frio como uma criança, aquele que apenas tinha de passear, mas que podia fazê-lo num lugar qualquer, sem se mexer. Bartleby é o homem sem referências, sem posses, sem propriedades, sem qualidades, sem particularidades: ele é demasiado liso para que lhe possamos pregar uma particularidade qualquer. Sem passado nem futuro, ele é instantâneo. I PREFER NOT TO é a fórmula química ou alquímica de Bartleby, mas podemos ler ao contrário, I AM NOT PARTICULAR, eu não sou particular, como o complemento indispensável. É todo o século XIX que será atravessado por esta procura do homem sem nome, regicida ou parricida, Ulisses dos tempos modernos («Eu sou Ninguém»): o homem esmagado e mecanizado das grandes metrópoles, mas de onde se espera, talvez, que saia o Homem do futuro ou de um novo mundo.

Deleuze, Crítica e clínica

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