E Martim compreendeu agora por que seu pai, já pelo fim da vida, dizia teimoso: inexplicável: «sempre consegui o que quis». Sim, de algum modo sempre se conseguia. E eu, que foi que consegui? Consegui a experiência, que é essa coisa para a qual a gente nasce; e a profunda liberdade que está na experiência. Mas experimentar o quê? experimentar essa coisa que nós somos e que vós sois? É verdade que a maior parte do modo de experimentar vem com dor, mas também é verdade que esse é o modo inescapável de se atingir o único ponto máximo, pois tudo tem um ponto máximo, e cada coisa tem uma vez, e depois nos preparamos para a outra vez que será a primeira vez — e se tudo isso é confuso, nisso tudo somos inteiramente amparados pelo que somos, nós que somos o desejo.
Clarice Lispector, A maçã no escuro
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