É que vamos de aqui para ali e não chega. Um dia passamos de novo pela casa de infância e compreendemos que estamos sós. Mãe, pai,
ninguém responde, só o apelo do que desconhecemos em nós. Passamos
demasiado tempo a tentar compreender, e enquanto isso o tempo passa. Porque a
força se escoa por algum poro invisível.
Isak observa-se mas não sabe. Olha para trás e não tem
resposta, apesar de algum consolo com uma certa imagem. Decide viajar de carro
e então sente; se viajasse de avião, seria de outro modo. Pois, e se um dia me
tivesse mudado para aqui, tudo teria sido melhor. É terrível não saber, é
terrível estar vivo — a calma dá a medida da tua humanidade, tanto quanto a
dúvida. E enquanto isso — os jovens admiram. Ingénuos, e ainda a força que
transmitem, de quem ainda não sabe que está perdido. Não do lugar de quem sabe
o que é a vida, porque ninguém sabe. Um médico e investigador reputado percebe que nada vale a pena, pois as decisões têm sempre morte no seu reverso.
Perde-se muito enquanto se ganha qualquer coisa, mas isto é só um homem com
medo do seu desejo. Que avança nas sombras em busca dos pais que deviam desejar
por nós. Mas nunca se sabe, apenas somos chamados a ser.
Encostamo-nos à árvore como quem espera. Olhamos para trás à procura da
resposta que não acontece. Uma certa calma das coisas em ordem, mas não sabemos
o nosso lugar nelas e tudo parece avançar enquanto avançamos. Mas não: quando
paramos, percebemos que muita coisa não se mexeu e que o passado não é um lugar
imóvel.
Fotograma de Morangos silvestres de Ingmar Bergman
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