21.11.15

Televisão no lugar de Deus. Ou televisão como «máquina-buda» (Sloterdijk)

Karen olhou para o aparelho de televisão aos pés da cama. Via-se uma mulher montada numa bicicleta de exercício, estava vestida com um fato justo e cintilante e falava para a câmara enquanto pedalava, e num dos cantos do ecrã via-se a imagem de uma segunda mulher, com o tamanho de um selo, que repetia em linguagem gestual o discurso da primeira. Karen observou-as a ambas, os seus olhos a varrerem o ecrã. Era uma rapariga muito indefesa. Engolia tudo, acreditava em tudo, dor, êxtase, comida para cães, as coisas mais seráficas, a felicidade infantil a descer dos céus. Scott olhou para ela e ficou à espera.
Ela trazia em si o vírus do futuro.


Don DeLillo, Mao II 
(tradução de José Miguel Silva)
 
 
 

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