16.5.13

100 anos de azar *

O filme é sobre o amor, mas é sobretudo da existência de sorte e de azar que vou falar. Para muitos, a sorte e o azar não existem, tudo é competência. Isto é, o desfecho dos acontecimentos depende exclusivamente de factores humanos, da vontade individual, do eu. A incompetência, disse-o já Gonçalo M. Tavares, é hoje entendida como o oitavo pecado capital (embora façamos vista grossa a coisas bem mais abomináveis), justamente devido a este pressuposto. Tudo é humano e o que não é deve ser por ele controlado. Para além do óbvio pressuposto do livre-arbítrio, acredita-se furiosamente na vontade de poder, como se o poder humano fosse ilimitado. Citando Tita Girolamo, o protagonista de Le conseguenze dell' amore, de Paolo Sorrentino, para muitos, como a compaixão, também a sorte é uma criação dos fracos usada para culpar os fortes pela sua ferocidade natural: «La sfortuna non esiste… è un'invenzione dei falliti… e dei poveri…».



Considero que, por muito que o homem tente dominar todas as variáveis que condicionam a sua existência, haverá sempre algo que lhe fugirá esquivamente. E que, por isso, o poder da individualidade é limitado e dizer o contrário é uma crença.
Fomos abençoados pela sorte desde o primeiro minuto de jogo na Liga Europa para, no fim, os deuses se rirem na nossa cara. A aprendizagem de erros passados foi lenta e incompleta, como qualquer uma. No entanto, muita qualidade táctica da equipa do Benfica. No campeonato, também houve pouca sorte, mas, do outro lado, o Porto teve um excelente desempenho, contando com um onze, a meu ver, superior ao do Benfica, dispondo de jogadores titulares nas grandes equipas europeias: Alex Sandro, Danilo, Jackson. Um grande campeonato protagonizado pelos dois melhores treinadores portugueses da actualidade: Vítor Pereira e Jorge Jesus. Detalhes e sorte, não competência, decidiram a coisa. Nem tudo o treinador, no caso Jorge Jesus, pode controlar, e nem sempre os resultados desportivos são resultado da incompetência. Bom, pelo menos neste caso, não.



Entre muitos, um, desde 1904.


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