Cisalham todos os fios. Escalam as velhas muralhas do parque onde estão fechados, por mais que se tente retê-los aí. Içam-se sobre os muros da caserna. Reasselvajam-se. São como os gatos, que preferem as sarjetas aos salões, errantes, medrosos, subtis, recuando ao menor ruído, desconcertados pela menor dor, saltando ao menor movimento de um fio de aranha que se mexe, de uma nuvem que passa, de uma abelha que esvoaça, de uma folha que cai, negligenciando as vias-férreas, os aeroportos, as auto-estradas com portagens, passando pelas ardósias lisas e inclinadas dos telhados, pelas valas lamacentas dos campos, pelas margens húmidas e brumosas dos rios.
Pascal Quignard, Os desarçonados, trad. Diogo Paiva
Sem comentários:
Enviar um comentário