15.7.24

«Cerrar los ojos» de Victor Erice (2023)

Uma sombra, cada um que somos
atarantados sem entender o papel que nos tocou 
pôr em gestos e palavras
Mecanicamente o vamos vivendo mesmo 
que nem tudo funcione como novo
Como nada funciona como novo a partir do 
nascimento
Da atmosfera para os nossos pulmões adormecidos
Embriagados da impossibilidade de o esquecer
e continuarmos vivos de desaparecimento apenas sonhado
E nessa deslocação que é uma distância 
sentida – 
só pelos outros reconhecida, mas
Os outros sê-lo-ão para sempre, outros-outros –
Afinal, essa distância em relação 
a um conjunto de crenças e expectativas
Sobre nós, termos sido excluídos da crença
posta sobre o nosso nome 
Essa distância é em vida
Suportável, é possível continuar a viver 
sem biografia
Mas não sem a vida, sem o mar, sem a música, sem as mãos: 
e que perverso! – um outro juízo sobre
a contingência orgânica agora –
Que uma ordem continue a ser uma ordem 
para um conjunto desavindo de estradas neuronais
que a cabeçorra hesite impotente diante do óbvio
E que mesmo assim as mãos tremam 
o pescoço se incline como mosca ainda conhecedora
dos males da electricidade ou de mão irritada
Para o mais dentro desse mundo interior de que desviamos sempre o olhar
Para quê? Não nunca realmente esquecido!
Que um homem sem nome
como todos os homens que nunca o escolheram
– um grande não perplexo socialmente –
Seja ainda solícito com um sim, sim descalço
Perto de uma árvore ainda robusta e perene apesar da distância
Em relação à sua origem
Saber como quem se lança em verso pelas falsas costuras de si
Como afinal são os caminhos das mãos iguais com maior ou menor 
Controlo, porque o teu fazer foi sempre inconsciente? 
Outra vida, pescar, apenas ver?
Tragam-me esquecimento em travessas!
Não me lembro de nada, pára-se-me de repente o pensamento
Reconheço o amigo pelas mãos que fizeram comigo coisas em conjunto
Dois amigos: sim além disso foram a sítios
E a arte, no limite, salva uma pessoa
De quê? Para o quê?
O cinema olha para ti, o teu futuro 
nas tuas costas a olhar
na direcção oposta à do teu horizonte actual
Não há encontro, fecha os olhos
à possibilidade de dizer o teu nome
Nó que não desata nova linha para se entrelaçar: 
Tubo (cor), o coração
Nó cego, quebrado, pois, demasiado marítimo:
alma ainda agora nascida para as afecções de sempre
Ou um moribundo com coração, pulmões ainda 
cérebro com as suas funcionalidades embora:
E ouvidos

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