3.9.23

Ajuda-me, mãe

o vento abriu a porta e depois de novo a fechou a chuva nocturna
girava à luz dos candeeiros, trazendo o frio do outono
o mundo bocejava na chuvada e quando mais dormia,
mais desperto me sentia
pus-me a pé e telefonei à minha mãe
diz-me: há ninhos de pássaro por todo o lado no chão do seu
quintal... o que o meu filho murmura no seu sono traz em si tensões de viver
a caminho da meia idade, o meu futuro atormenta-me
não há muito mais que possa abandonar
e aquilo que me resta ganhar
é também impossível de conhecer. o horóscopo de ontem à noite
também ficou de repente ambíguo
tal como esta grande chuva embaciando as minhas janelas
de modo que não vejo claramente o branco de dentro, o negro de fora
mãe, ouviste o grito daquela cigarra?
tão urgente, como um acto de colapso

Duo Yu, Quinhentos poemas chineses, trad. Rui Cascais

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