girava à luz dos candeeiros, trazendo o frio do outono
o mundo bocejava na chuvada e quando mais dormia,
mais desperto me sentia
pus-me a pé e telefonei à minha mãe
diz-me: há ninhos de pássaro por todo o lado no chão do seu
quintal... o que o meu filho murmura no seu sono traz em si tensões de viver
a caminho da meia idade, o meu futuro atormenta-me
não há muito mais que possa abandonar
e aquilo que me resta ganhar
é também impossível de conhecer. o horóscopo de ontem à noite
também ficou de repente ambíguo
tal como esta grande chuva embaciando as minhas janelas
de modo que não vejo claramente o branco de dentro, o negro de fora
mãe, ouviste o grito daquela cigarra?
tão urgente, como um acto de colapso
Duo Yu, Quinhentos poemas chineses, trad. Rui Cascais
Sem comentários:
Enviar um comentário