4.6.23

Como uma enfermidade e sobre a oração

Desta espécie de loucura, que impulsiona as paixões até à raiva, podemos livrar-nos dizendo simplesmente que a tristeza não é mais que enfermidade e que como tal deve ser suportada, sem tantos raciocínios nem tantos motivos. Deste modo se dispersa todo o cortejo de pensamentos amargos; aceitamos a tristeza como uma dor de ventre, chegamos a uma melancolia muda; já não acusamos, suportamos. A isso tende a oração, e não é achado que se despreze; perante a imensidade do objeto, perante essa omnisciência que tudo sabe e tudo sopesou, perante essa majestade incompreensível, perante essa justiça impenetrável, o homem piedoso renuncia a pensar. E é indubitável que não há prece, feita de boa fé, que não tenha obtido imediatamente um grande resultado; vencer o furor já é muito. Mas também o bom sentido pode procurar-nos essa espécie de ópio da imaginação que afasta de nós a ideia de enumerar as nossas desgraças.

Alain, Sobre a felicidade

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