20.3.23

Jonh Berger, igualdade

Um Sétimo Homem | John Berger e Jean Mohr | Antígona

Ao enviar muitos trabalhadores para o estrangeiro, uma parte do cálculo consiste em que há menos probabilidades de se produzir uma revolução social nos seus países de origem.

Deixa de ser considerado um igual, o depositário singular de uma experiência única: é visto como simples soma de determinados talentos e necessidades. É visto, por outras palavras, como um conjunto de funções dentro de um dado sistema social. E nunca pode ver-se como algo mais, a menos que volte a ser introduzido o princípio da igualdade entre todos os homens.

A igualdade nada tem que ver com a capacidade ou a função: consiste no reconhecimento do ser como tal.

A justiça ou a injustiça de um sistema social só podem ser julgadas relacionando-as com o ser total do homem: de outra maneira, o único que se pode dizer sobre esse sistema é se é eficaz ou ineficaz. O princípio da igualdade é um princípio revolucionário não só porque desafia a existência de hierarquias mas também porque afirma que todos os homens são iguais na sua plenitude. E o contrário é igualmente certo: aceitar a desigualdade como natural é converter-se num ser fragmentado, é não conceber-se a si mesmo mais do que a soma de um conjunto de conhecimentos e necessidades.

Vários aspetos constitutivos do ser são negados pela própria situação do emigrante. Este carece de existência natural enquanto ser sexual e não tem uma existência legítima enquanto ente político. Só é permitida a sua permanência naquele lugar enquanto trabalhar no túnel.


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