5.2.23

Olhar desviado

Em 1842, em Bruxelas, na rua Isabelle, quando ensinava no internato Héger, Emily Brontë nunca levantou os olhos para os outros professores. Só apareceu uma vez na sala que lhes era reservada; a crise de ansiedade que se apoderou dela foi de tal ordem que não voltou a pôr lá os pés. Se fosse observada com atenção enquanto comia na mesa do refeitório, escondia a cabeça com vergonha, presa de um terrível temor, quando, em Inglaterra, em Yorkshire, não tinha medo de nada. Quando, abandonada a si mesma, percorria os páramos em companhia do seu cão e do seu açor; quando encontrava vagabundos e se cruzava com loucos. Nunca se atreveu a dirigir a palavra aos colegas se, nos corredores, desse de caras com eles, nem quando se metiam com ela durante uma discussão; Emily baixava rapidamente a cabeça. Além disso, nunca olhava os estudantes a quem ensinava literatura inglesa e música.

Pascal Quignard

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