21.6.19

Luís Mourão (1960-2019): memória



Ao Luís Mourão devo muito.
Comecei a trabalhar em 2009, ano de conclusão da licenciatura, a seu convite, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Tive o privilégio de ensinar várias disciplinas de Literatura com ele, em Licenciaturas e Mestrados. Nunca foi aquela pessoa vigiando o estrito cumprimento das minhas tarefas profissionais. Falava, perguntava se tudo estava bem, esclarecia, apontava calmamente soluções para os problemas com que nos deparávamos.
Comecei o doutoramento em 2013. O Luís foi meu orientador: reviu criticamente todos os meus ensaios, aconselhou, pôs-me a pensar e a organizar melhor o que queria dizer (numa fase para ele muito difícil). Devo-lhe muito pelo que tenho escrito.
Em setembro de 2017 vivi um período complicado. Terminou em agosto o período de vigência da minha bolsa de doutoramento, a minha esposa não tinha trabalho, o nosso filho tinha dois anos. A minha esposa foi com o meu filho para o país-natal dela. Eu fiquei em Portugal, foi uma fase difícil (e vários outros problemas se juntaram) do ponto de vista económico e emocional.
Nesta fase, poucos meses depois da morte de Laura Ferreira dos Santos, o Luís deu-me ajuda financeira e confortou-me. Vivi uns meses em casa dele: a sua calma, a sua boa disposição, a sua lucidez, a sua generosidade, fizeram-me solucionar os problemas um a um. Foi um período que jamais esquecerei, um gesto que me comoverá enquanto viver. Tentarei retribuir o que me foi dado.
Em março de 2018 emigrei. Ia falando com o Luís com frequência, nos últimos meses falávamos muito sobre a vida. Ouvia-me, antecipava a circunstância e os meus medos. Sempre o senti calmo e lúcido; mesmo doente, era o Luís de sempre. Em maio de 2019 chegou um silêncio de dias que não julguei que pudesse tornar-se tão violento. Não pude rever o Luís e tanto queria abraçá-lo. Tentarei que o seu exemplo esteja sempre vívido nas minhas ações e nos meus pensamentos.
O mundo não é um lugar terrível, é um lugar terrível e bom, ao mesmo tempo ou em alternância. Tive o privilégio de me cruzar, num momento muito duro, com o Luís, homem desprendido e bom. A bondade, dizia Manuel António Pina, citando Beethoven, é a única forma de superioridade (talvez ‘superioridade’ não seja a melhor palavra, mas a ideia parece-me fazer jus a quem foi o Luís Mourão).
É muito triste o seu desaparecimento.


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