21.10.18

De madrugada

Fantasma da madrugada: durante toda a minha vida sonhei levantar-me cedo (desejo de classe: levantarmo-nos cedo para «pensar», para escrever, não para apanhar o comboio dos subúrbios); mas essa madrugada do fantasma nunca eu a veria, mesmo que conseguisse levantar-me cedo; pois para ela ser conforme com o meu desejo seria necessário que, mal me levantasse, eu pudesse, sem perda de tempo, vê-la no despertar, na consciência, na acumulação de sensibilidade que se tem à noite. Como conseguir estar bem disposto à minha vontade? O limite do meu fantasma é sempre a minha in-disposição.

Roland Barthes, Roland Barthes por Roland Barthes

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