Canção da torre mais alta
A tudo rendida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah que o tempo avance
Que encanta os amantes.
Eu disse-me: esquece,
Não sejas ninguém.
E deixa a promessa
De mais altos bens.
Que nada te frustre
O retiro augusto.
Ó viuvezes várias
Da pobre alma agora
Que só tem a imagem
De Nossa Senhora:
Rezar dever-se-ia
À Virgem Maria?
Esperei tão paciente
Que para sempre esqueci.
Medo e sofrimento
No céu os perdi.
E uma sede langue
Escurece o meu sangue.
Tal a pradaria
Que o olvido vence,
Crescida e florida
De joios e de incenso,
Ao zoar furibundo
Das moscas imundas.
De ócios jovem presa
A tudo rendida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah que o tempo avance
Que encanta os amantes.
Rimbaud, Obra completa
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