8.8.18

Quina e Custódio

— O que me deixa vossemecê quando morrer?
— Que me és tu? — disse Quina. — Criei-te e dou-te de comer. Que esperas mais?
— Então que estou aqui a fazer? — bradou o moço, com escândalo. E ela riu-se, ainda que a desajeitada punhalada, por muito tempo ou para sempre, tivesse de sangrar dentro de si.
Aquela ingenuidade, aquela falta de arteirice e de dissimulação eram, de resto, menos desfavoráveis para Custódio do que a astúcia mais consumada. Mesmo quando a sua ambição eclodiu e se fez apresentar com favores de malícia, uma ou outra inesperada argúcia, ela acreditava-o apenas instrumento de conselheiros mais hábeis, e não impulso da sua própria natureza tão singela.

Agustina Bessa-Luís, A sibila


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