5.7.18

Em busca de uma alegria equânime em tempos de decadência

Ouvi mais tarde o irmão Otão dizer sobre os nossos tempos mauritânios que um erro só se torna uma falta irreparável quando nele se persiste. Palavras que se me afiguraram tanto mais verdadeiras, quando pensava na situação em que nos encontrávamos na altura em que aquela ordem nos atraiu. Há épocas de decadência em que se esfumam os contornos da forma que permite a realização de uma vida mais plena. Quando elas nos cabem em sorte, vacilamos e andamos aos tropeções de um lado para o outro como seres que perderam o equilíbrio. Saímos de uma alegria conturbada para mergulharmos numa dor acabrunhante, ao mesmo tempo que uma consciência de perda, que nunca nos larga, nos faz ver o futuro e o passado como mais aliciantes. Movemo-nos em tempos remotos ou em utopias distantes, enquanto o momento presente se nos escapa entre os dedos.
Assim que nos apercebemos desta carência, esforçamo-nos por lhe pôr cobro. Sentíamos a nostalgia da presença, da realidade, e teríamos penetrado no gelo, no fogo e no éter para nos vermos livres do tédio. Como sempre acontece quando a dúvida se acasala a um excedente de energias, convertemo-nos à força — e acaso não é ela o eterno pêndulo que faz avançar os ponteiros, tanto de dia como de noite?

Ernst Jünger, As falésias de mármore


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