11.7.18

A partir de Agustina

O ponto máximo de perversidade é o pressentimento da força — a cumplicidade é só uma estratégia para enfraquecer, evitando-se obstáculos futuros. As almas muito inseguras que sem a caução alheia para cada passo — incluindo os que a própria consciência julga como perversos — são incapazes de fazer o mínimo. Uma insegurança que é sobretudo filha do ressentimento e da manha. Farejam os que estão em suspenso para o exercício do seu magistério mesquinho. Como sabemos, o poder ganha-se muitas vezes não no incremento da força individual, antes na subtracção da força dos que podem ameaçar. O pequeno ódio fomentado com astúcia, o acesso de febre fomentado por certas palavras, envoltas em celofane, são o necessário para conquistar mais um palmo de terreno, num mundo pequeno para pessoas com sapatos altos. A simpatia como técnica negocial, na expectativa de lucros futuros, e não propriamente entrega ingénua ou intencionalmente bondosa. No mundo existem carros longos e comentários aprazíveis. Hoje é mais um dia em que tudo se joga ao milímetro: uma achega, palavras doces como veneno, o uso ponderado do elogio, em busca da cumplicidade que caucione o mal, e, em consequência, alguém irá cair, mais ou menos devagar, receberemos essa energia com gáudio.

Caminham como se o mundo fosse revestido a alcatifa e dividem os homens entre os que pisam a terra e os que sobrevivem uns degraus acima do ar. 


Sem comentários:

Enviar um comentário