27.5.18

Vida, literatura, dor e osso

O escritor preocupa-se com isto: que fazer quando o que acontece fora da literatura é mais importante?
Dirás: nunca sucede o inverso: a vida é sempre mais importante.
Direi: não é verdade. Certas vezes certos versos são mais intensos que certas manhãs lá fora a sorrir muito para certas pessoas.
Versos de Brodsky:
"Engrossa-a com gusano,
lança-lhe adubos, planta uns choupos:
que a alma, tragédia, se pareça com a natureza!"

Outro verso:
"mas os ossos doem, tanto aqui em casa como no estrangeiro."
O osso e a dor são mais portáteis que qualquer mala levezinha. 

Gonçalo M. Tavares, A perna esquerda de Paris


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