8.2.17

Sombras e desastres

Os homens, afinal, são todos iguais e nenhum pode fazer bem a outro. Quando estava no palco, tudo era calmo, quando estava ao pé de um homem tudo era escuro. Viver significava comer e comer significava viver. Um dia, alguém se suicidara por causa dela; este gesto não a afectara por aí além, mas costumava pensar nele de bom grado. Tudo o mais mergulhava na sombra e, nessa sombra, os homens passavam como sombras mais carregadas fundindo-se umas nas outras, procurando, depois, dissociar-se novamente. Tudo aquilo só provocava desastres, como se precisassem de se castigar a si próprios quando procuravam o prazer juntos uns dos outros. Sentia-se um tanto orgulhosa por causar desastres também e quando o tal rapaz se suicidara vira nisso uma espécie de expiação e de indemnização que Deus lhe conferira em virtude da sua estirilidade.

Hermann Broch, Os sonâmbulos. Esch ou a anarquia.




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