20.11.15

O jogo de Deus

«O mundo visível é corrupto, e eis aqui um homem que esconde o rosto.»
«É isso», disse ela.
«Não digo que as pessoas não se sintam intrigadas por essa figura, mas também se sentem ofendidas, fazem troça e gostariam de a denegrir, de ver o seu rosto distorcido pelo choque ou pelo medo quando o fotógrafo escondido salta de trás de uns arbustos. Nas mesquitas não há imagens. Mas nós, no nosso mundo, dormimos e comemos imagens, rezamos a imagens, vestimos imagens. O escritor que não quer mostrar o rosto está a invadir território sagrado. Está a jogar o jogo de Deus.»


Don DeLillo, Mao II 
(tradução de José Miguel Silva)


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