25.8.14

Como pedra no poço

Procuro um ser para invadir
Montanha de fluido, pacote divino.
Onde estás, meu outro pólo? Dádivas sempre adiadas,
Onde estás, fluxo marinho?
Vazar em ti a violenta vaga da minha tensão intolerável!
Piratear-te.

Presença de si: instrumento louco.
Pesamos sobre nós
Pesamos sobre a solidão
Pesamos sobre os arredores
Pesamos sobre o vazio
Dragamos o fundo.

Mundo costurado de ausências
Milhões de elos de tabus
Passado de cancro
Barreiras dos genuflectores e dos carregadores de fardos;
Oh Felizes medíocres
Mastigai o cotão e o courato dos séculos e a civilização
                                                            dos desejos baratos
Vá lá, é para vós tudo isso.

A raiva não fez o mundo mas a raiva tem de viver no mundo.
Companheiros do "Não" e do escarro mal contido,
Companheiros... mas não há Companheiros do "Não"
Eu vos saúdo como pedra no poço!
E aliás, que se lixe!


Henri Michaux, mudado por Herberto Helder,
 in Doze nós numa corda



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