O divino imperador Hirohito transforma-se em ser humano. Como? Abrindo pela primeira vez uma porta.
Aleksandr Sokurov, O Sol, 2005
Subtileza memorável de Aleksandr Sokurov: a hesitação do imperador que procura entender o funcionamento da maçaneta da porta.
Eis uma possível definição de humano que o cineasta nos oferta: a espécie que abre portas, que se projecta para o desconhecido, que entra noutro espaço sem certezas, sem ter visto, exposta à revelação de forma abrupta. Ao mesmo tempo, a porta mantém-lhe intacta a honra. Não ter portas para abrir, não porque outros a abram, mas porque o espaço habitado - habitado? - não as possui, experiência que o sem-abrigo conhece, é devastador. Abrir a porta é o primeiro momento da expansão imprevisível e até intempestiva da intimidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário