12.3.14

Uma forma de se tornar humano

O divino imperador Hirohito transforma-se em ser humano. Como? Abrindo pela primeira vez uma porta.



Aleksandr Sokurov, O Sol, 2005




Subtileza memorável de Aleksandr Sokurov: a hesitação do imperador que procura entender o funcionamento da maçaneta da porta.

Eis uma possível definição de humano que o cineasta nos oferta: a espécie que abre portas, que se projecta para o desconhecido, que entra noutro espaço sem certezas, sem ter visto, exposta à revelação de forma abrupta. Ao mesmo tempo, a porta mantém-lhe intacta a honra. Não ter portas para abrir, não porque outros a abram, mas porque o espaço habitado - habitado? - não as possui, experiência que o sem-abrigo conhece, é devastador. Abrir a porta é o primeiro momento da expansão imprevisível e até intempestiva da intimidade.






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