24.6.13

Lola, de Brillante Mendoza

As avós caminham com aquele pensamento femininamente feroz do pão. Não se recolhem, avançam determinadas publicamente pela honra adentro, quando sentem ameaçadas as bases da vida. Os homens retraem-se numa verticalidade hierática. São subtis e delicados. São monumentais, os homens, defronte do caos. As avós fazem mundo verdadeiramente: a câmara vai acompanhando-as, às vezes de forma titubeante. Segue-as com pressa, em ombros, por sinuosos caminhos. Deslocam-se as avós na certeza da sua vocação amorosa, derreiam tudo com o seu silêncio audaz, aguentam com excruciante paciência todas as delongas, todo o ressentimento burocrático. Avançam com o furor maligno da justiça. Seguem essa unidade com uma intuição astuta. Predestinada justiça a da força tranquila. Certeza não fremente. O amor acontece contra todos. Ajeitam a roupa da cama, cozinham, agarram os netos pela mão pelo mundo. Não sorriem, são inesgotáveis, a sua força é para além disso. Devoradores blocos compactos de idade.

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