16.8.11

Considerações algo intempestivas

Enquanto pensarmos a Shoah como o limite do mal, nunca podemos levar a sério atrocidades que ocorram agora. A racionalidade de todo o processo é chocante (leia-se isto, claro, à luz do que pensa Zygmunt Bauman). A técnica e a eficiência em nenhum outro momento histórico estiveram tanto ao serviço do mal como lá (claro que quem o fez achou estar a aperfeiçoar o mundo, não o fez pelo mal em si). Porém, isso não nos deve fazer relativizar todas as tragédias que ocorram agora. Nunca poderemos extrair as causas da pobreza, sobretudo as sistémicas. Nunca poderemos pensar a pobreza como uma tragédia também ela incomparável e que urge parar. É sempre algo que naturalmente acontece, pela falta de competitividade económica, pela complacência com ditadores (da parte de quem?), por não podermos contornar a essência humana, sei lá o que mais. E assim dormimos, porque o grande Mal, o Mal em que nem por ele termos passado nele acreditamos, esse, já passou.

Alguns apontamentos. Os momentos de libertação são precedidos por uma bandeira americana e acompanhados por música épica. O contributo da ex-URSS, também ele assaz significativo, passa despercebido. O justicialismo americano, esse, também tem o seu momento e sacia-nos por instantes.

Certos momentos estéticos são outra obscenidade. Tomamos consciência de que o documentário tem realizador, etc.. Embora considere importante o registo, acho de uma frieza insuportável alguém haver registado imagens dos campos de concentração. De uma falta de empatia tremenda. A quem, perante tal atrocidade, ocorrerá tirar uma fotografia ou filmar? Terá que colocar outros valores acima da realidade.

A superioridade moral que algumas vítimas assumem quando o assunto é o terrorismo islâmico. Fico por aqui no que a isto diz respeito.

Compreendemos também, se é que ainda não havíamos compreendido, por que razão Israel é o país do mundo com mais ateus.


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