11.8.11

Dois dias

Repugna o narcisismo que se crê artístico. Creio haver um mal-entendido do postulado da arte enquanto trabalho da imaginação sobre o real por um artista socialmente desvinculado. Ou então a absorção disto pelo show business. Quando se aplica ao cinema vemos câmaras a moverem-se sem razão - citações absurdas de Godard? -, diálogos de uma afectação cansativa e de um humor kitsch repetitivo, enfim, o resultado de uma geração de classe média-alta que acedeu cedo aos media e se julga artista. Kitsch por kitsch prefiro o ascético de Adília Lopes. Isto a respeito de Dois Dias em Paris de Julie Delpy. O Y não é só isto ainda, mas também. Irritante de tão persistentemente pretensioso. O filme é um bocejo, é o tédio transposto para a tela e supostamente vívido. Nada é tratado com seriedade nem ponderação - é o eu mediático a história. Nem nada chega a ser cómico quando isso se pretende (e se se pretende). Talvez isto seja a prova de que o filme funcionou. A cena auto-consciente das «burguesas de merda» poderá indiciar isso. Talvez.


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