24.6.11

Climas, de Nuri Bilge Ceylan

Como encontrar a temperatura da intimidade? Como acertar temperamentos e fazer desse acerto uma relação? São perguntas sem resposta neste filme. O que ele capta é o desacerto, o excessivo da canícula e da neve. Não há close-up, nem aproximações à intimidade: planos-sequência, planos fixos e o recurso ao plano americano, salvaguardando a câmara uma distância segura em relação às personagens. Isto num filme sobre o interior de uma relação, ou sobre o vazio que a preenche. Enquadramentos muito cuidados e cheios de significado (acredito que em cinema deve falar mais o espaço do que as palavras). Em suma, um imaginário é criado pelo filme (não se esqueça o contributo do HD para tornar quase palpável o que se filma) e é ele quem mais nos diz coisas sobre as personagens. 

Depois há a questão social: uma burguesia indiferente, quase anémica, e neurótica. O mundo laboral e a tecnologia metem-se entre as pessoas. E as palavras, já agora. Para a Psicologia e para as Ciências da Educação, o sujeito reduz-se a competências e sucesso, e é para formar sujeitos assim que elas existem. Ora, ambas parecem ignorar a noção lacaniana de «parlêtre», o sujeito que, sendo determinado pelo significante, não coincide consigo mesmo mas é sujeito do inconsciente. Isto é: o ideal da relação saudável seria possível se os sujeitos não falassem. A linguagem é sempre opaca, fonte de equívocos, justamente porque todo o significado desliza sob o significante. Por isso vejo nas poucas palavras que o casal troca uma virtude. Encher uma relação de palavras é enchê-la de vazio.

Outro ponto de exploração seria o mistério feminino, como o entende Zizek: com a mulher dá-se a quebra do nexo de causalidade; nunca sabemos o que ela fará a seguir. São imprevisíveis. Claro que aqui devo falar também deste macho urbano e culto que capitaliza fragilidade (medo da solidão, narcisismo, egoísmo). E isto também é desconstrução: o homem, quando imerso no simbólico, já não lança a palavra como garante de substância. Ele sabe bem o que faz.



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