10.2.11

Um lugar à beira-mar


Como se faz de tão pouco algo significativo. É este o resumo também de alguns dos filmes de Takashi Miike (penso em «Rainy Dog»). Um tão pouco que nos falta aparente é o que nos dá um sentido de completude simbólico. Do vazio que nos coube ainda é possível criar um pequeno deus contemplável. O resto, no caso, tudo, o elementar: o plano fixo e o triângulo amoroso. 
Outra lição: a vocação expande-se depois da desvinculação social. O sujeito depressivo (Lacan), absolutamente só, despojado, é radicalmente livre (Kant). Alcança-se esse estilo de vida apanhando uma onda, pela inserção no já existente, sem uma origem. Está ali, à frente dos olhos; mergulhar no possível, eis o fundamental. Deleuze, já se vê. O Real, esse, contudo, volta sempre. 
Vemos ainda como podemos olhar para o mar e não nos cansarmos. Nem a alma se cansará, caro Eugénio. O mar é uma fonte inesgotável de significação, até ao ponto em que já não é metonímico. Apenas possibilidade de sentido, como a que se reservaria para a vida.


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