2.6.10

A Naifa, encore




Assistir a um concerto pode ser desconcertante, especialmente se somos convidados a pensar, a deixar de lado o lugar cómodo do morto. Uma coisa é o fado, e a sua imagem de Portugal - que convida a essencialismos míticos, hoje lidos como kitsch, e com perigosas conotações políticas. Outra, o fado de A Naifa, cuja principal motivação é desconstruir aquela imagem una, coesa, grandiosa, de certos sentimentos a que nos acostumámos, por indução política, primeiramente, a chamar de portugueses. No fado tradicional a saudade engrandece o carácter, é traço distintivo de uma identidade; com A Naifa, é fragilidade, melancolia. E é nisso que consiste a tragédia - esse fechamento, estarmos dentro da nossa catástrofe recalcada, sem que dela possamos sair. Por isso me custou a respirar durante o concerto. A melancolia das pequenas vivências do quotidiano, essa, é portuguesa, e rouba com alegria o brilho às coisas. O mundo é assim baço, mas nosso.

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