Há um impulso, em momentos como este, de apelar ao interesse próprio. De dizer: estes horrores que estão a permitir que aconteçam um dia bater-vos-ão à porta; de repetir a famosa frase sobre quem eles vieram buscar primeiro e quem virão buscar a seguir. Mas este apelo não pode, de facto, funcionar. Se as pessoas que beneficiam de um sistema que tolera tal carnificina acreditassem verdadeiramente que a mesma carnificina lhes poderia ser infligida um dia, deitariam o sistema abaixo amanhã. E, seja como for, quando tal coisa acontecer, o resto de nós já estará morto.
Não, não há nada de terrível à vossa espera num futuro distante, mas saibam que algo de terrível vos está a acontecer agora. Estão a pedir-vos que matem uma parte de vós que, de outra forma, gritaria em oposição à injustiça. Estão a pedir-vos que desmantelem a maquinaria de uma consciência funcional. Que importa se a conivência diplomática prefere que se ignore a imagem de crianças desmembradas? Que importa se a grande distância do lugar ensanguentado permite a indiferença? Esqueçam a piedade, esqueçam até os mortos se for preciso, mas lutem pelo menos contra o roubo da vossa alma.
Omar El Akkad, Um dia, quando for seguro, quando não houver consequências pessoais por chamar as coisas pelos nomes, quando for demasiado tarde para responsabilizar seja quem for, sempre teremos sido contra isto.

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