28.11.25

Sinto-me frequentemente comovido sem me mover

Suheir Hammad disse-me      a dor esse professor.
                                  Eu respondi        a dor esse ladrão.
Ensinou-me a desejar ser um macaco
a catar piolhos na cabeça do meu irmão
em vez        disto aqui        smokings e conversa.

Desfaço-me em desculpas,
                arrependido em geral.

A culpa é muitas vezes minha
por ter uma dúzia de cavalos mortos sob a cama,
poemas cheios de remorsos para os analfabetos em remorsos.
Isto não é sequer                                    uma metáfora
              nem sequer uma facada               nem uma pedra.

Os meus amigos dizem-me que preciso de falar,
explicando o assassino ao assassinado — Doutor,
e se eu lhe dissesse que desconfio
da civilização e dos civilizados,
que prefiro        catar piolhos na cabeça do meu irmão
          a catar        a sanidade na minha?

A dor esse professor, e a vergonha uma bússola.
          Sinto-me frequentemente comovido sem me mover.
Preferia arrancar a maçã
da minha própria garganta        Quero
                            arrancar a maçã
da minha própria garganta. Quero a minha voz
sem voz. Ponham jóias nas minhas órbitas
e fingirei que consigo ver.

O inglês considera o sentimentalismo piroso,
                        raramente deixa as sirenes respirar,
e eu insisto neste oxigénio.

Só posso descrever esta culpa
com comparações que a invalidariam.
Já não quero usar a linguagem, já não
                        quero usar a língua.

Nos últimos anos encarei os aeroportos
como casas funerárias —
levando a bordo os meus cavalos mortos
novas cidades                                            novos drones.
Gostava de ser um proprietário
dos inquilinos na minha cabeça. Gostava de poder
chular a minha dor                                 e endurecer.
A dor esse professor        e eu nunca aprendo.

Mohammed El-Kurd, Rifqa


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