O supremacismo de Israel realiza, nos territórios ocupados da Palestina, aquilo que a extrema-direita imputa aos imigrantes (muitos deles árabes) no Ocidente. De acordo com a propaganda abjecta da extrema-direita europeia, os imigrantes beneficiam de elevados subsídios, apartamentos e outros bens oferecidos pelos Estados europeus. Ora, um imigrante americano ou europeu que adira ao sionismo sabe que não precisará de grande esforço para despossuir os palestinianos da sua terra, da sua casa e de outros recursos. Basta o assédio, a ameaça, a vandalização de propriedade, a agressão, o assassinato — com armas fornecidas pelo Estado de Israel. Imputa-se de algum modo aos imigrantes que vivem nas sociedades europeias as acções que os ocidentais realizam na Palestina. Território onde se operacionaliza um programa humanista que visa destruir e reconverter civilizações consideradas inferiores. Ao mesmo tempo, fomenta-se e normaliza-se a arabofobia, a islamofobia e o racismo, em geral, por cá, com base nos mesmos pressupostos políticos e metafísicos. De outro modo, retomando um argumento de Enzo Traverso, predomina uma visão conservadora segundo a qual o Ocidente estaria sob ameaça do Islamismo, o que legitimaria os actos mais hediondos. Daí que os partidos de extrema-direita europeus estejam do lado de Israel, que representa o modelo para os regimes pós-democráticos que se esboçam pela Europa. A social-democracia europeia ainda está dividida quanto a reconhecer a existência de um projecto colonial israelita que provoca todo o tipo de violência e fanatismos. Israel é o resultado do processo de secularização do sionismo, um nacionalismo estatal que opera a limpeza étnica e o genocídio desde 1947 e que conta com o apoio financeiro e o entusiasmo de inúmeros cristãos fundamentalistas justamente porque se permite pôr em prática a purificação étnica da Terra Santa. Por isso, o que verdadeiramente deveria ser discutido é o processo de descolonização da Palestina e não a questão dos dois Estados. A garantia de que há direitos iguais para todos, o fim do apartheid, o fim do rogue state de Israel. Seja como for, é ridículo que se continue a afastar os palestinianos da liderança da negociação do futuro naquele território. Enquanto a opinião pública internacional se vai lentamente ilustrando para pressionar o poder político (o que move os políticos são apenas as suas carreiras e a imagem pública), em Gaza milhares de inocentes são chacinados sem parar. Velocidades diferentes que permitem a expansão do horror.
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