4.6.24

Kafka: casamento, transformar-se no que é pequeno

O que mais o atormentava na sua concepção do casamento havia de ser o facto de não se poder desaparecer, fazendo-se pequeno: tinha-se de estar ali. O medo da prepotência é central em Kafka, e o seu meio de defesa contra ela é transformar-se no que é pequeno. A santificação dos lugares e das situações, que nele se manifesta de forma tão espantosa que dá a impressão de ser compulsiva, não é outra coisa senão a santificação do Homem. Cada lugar, cada momento, cada traço, cada passo é sério, importante e singular. Há que furtar-se à opressão, que é injusta, desaparecendo para o mais longe possível.

Elias Canetti, O outro processo, trad. Paulo Osório de Castro

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