7.2.24

O impreciso é melhor que o certo

Tive essa impressão sem nexo porque no quadro fronteiro 
Naus partem — naus não, barcos, mas as naus estão em mim, 
E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta, 
Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta, 
E nada que se pareça com isto devia ser o sentido da vida...

Onde tenho o meu pensamento que me dói estar sem ele, 
Sentir sem auxílio de poder para quando quiser, e o mar alto 
E a última viagem, sempre para lá, das naus a subir...

E os meus olhos fitos na casa branca sem a ver
São outros olhos vendo sem estar fitos nela a nau que se afasta,
E eu, parado, mole, adormecido, 
Tenho o mar embalando-me e sofro...

A casa branca nau preta...
Felicidade na Austrália...

Versos de «Casa branca nau preta», Álvaro de Campos

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