2.1.23

Sair do parque

Quero isto, assim. Compreender. Sabe o que se está a passar? Quem sou. De fora entendemos plano. Com tempo pela frente, o mundo parece de fora, parece evidente. A velhice é tempo que não nos pertence somado ao que pouco que, no passado, nos pertenceu. Nunca somos nós próprios, embora nunca tenhamos tido coragem para o viver para sempre. Sentir-se a perder todas as folhas. A enfermeira pode explicar tudo, mas nada sabe. Nada mais tenho. Um relógio, o horário, que morde o pulso. A enfermeira lança a âncora, que se afundará também. Terceiro braço. A capacidade que têm de continuar a sentir. É que ninguém sente; imaginar o desespero de desejar vida para além de dar a mão. Nada ficar, se não a árvore nua, até ossos serem terra. Enfermeira, máquina de delicadeza que salva também nos hospitais. Salvar é romper o aqui, a impaciência. E sempre necessitados de sair. Vamos ali? Sim, sim. Sim sim é pousar a cabeça possível sobre os ossos próximos. Sim, vamos, como viver. É assim: relógio, programa, dia guardado estes segundos. Vamos ali, não era bem isso. Mas ainda não, um pouco mais para antes, na direcção das árvores e do céu. Atravessado por tudo do início ao fim. No parque não, sair do parque.

Anthony Hopkins

Florian Zeller, The Father (2020)

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