22.1.23

Nietzsche esteve aqui

«Bárbaros, desde tempos remotos, que o trabalho e a ciência e inclusivamente a religião tornou mais bárbaros ainda, absolutamente incapazes de qualquer sentimento divino, corrompidos até à medula, para bem das sagradas graças, ofensivos para com qualquer alma bondosa, em toda a escala quer dos excessos quer das insuficiências, insensíveis e desarmoniosos como os cacos de um vaso que se deitou fora — assim, meu Belarmino, eram os que me haviam de consolar.
(...)
E, digo-te: não há nada sagrado neste povo que não tenha sido profanado, rebaixado, até ao nível de um miserável expediente, e todo aquele que, por si, mantém a pureza divina, mesmo entre selvagens, é tratado por estes bárbaros calculadores de tudo, como se tratassem de um ofício, e doutra coisa não são capazes, pois que uma vez que um desses seres humanos está adestrado, põe-se ao serviço do seu objectivo, procura a sua utilidade, já não se entusiasma, Deus o livre!, fica inerte, e quando festeja e quando ama e quando reza e mesmo quando a festa graciosa da Primavera, quando o tempo de reconciliação do mundo, dilui todos os cuidados e a inocência inculca a sua magia ao coração culpado, quando o escravo, inebriado pelos quentes raios de Sol, esquece alegremente as suas cadeias e quando os inimigos do homem, aplacados pelo ar divinizado, se tornam pacíficos como crianças —mesmo quando a borboleta sai do casulo e a abelha enxameia, o alemão continua preso à sua especialidade e não se preocupa muito com o tempo que faz!»

Mas, antes de referir o Éter amado, Hipérion não esquece os passarinhos, «cambaleando à luz do alvorecer e ávidos do dia».

Hölderlin, Hipérion ou o eremita da Grécia

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