14.6.22

Vossa Alteza Sereníssima

Refere Conz, amigo de Hölderlin em Tübingen:

"Durante o verão, veio com frequência ao meu jardim, pronunciando algumas palavras semirrazoáveis, mas logo se perdia no seu habitual tagarelar feito de palavras meio francesas e meio alemãs e de cumprimentos, como Vossa Graça, Vossa Alteza Sereníssima, acompanhado de olhares suspensos no ar e dos esgares do rosto e da boca que são do seu conhecimento."

(...)

Comentam Agamben e o carpinteiro Zimmer:

"É significativo que até um amigo bem-disposto considere as poesias e os escritos filosóficos de Hölderlin sob o signo de uma loucura que é dada por assente, embora a sua única confirmação pareça serem as saudações cerimoniosas através das quais verosimilmente o poeta, que decidira suspender a comunicação com quase todos os outros seres humanos, mantinha a distância com os que o visitavam. É o próprio Zimmer, com quem o poeta comunicava todos os dias sem fazer uso dos títulos cerimoniosos, a sugeri-lo: «Tereis ouvido falar do seu hábito de dar títulos aos estranhos que o visitam. É o seu modo de manter as pessoas à distância. Não nos devemos enganar, é um homem livre apesar de tudo, e não se lhe devem pisar os calos... quando vos cobre de títulos, é a sua maneira de dizer: deixai-me em paz.»"

Giorgio Agamben, A loucura de Hölderlin. Crónica de uma vida habitante (1806-1843)



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